segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

vagarosa

ou a instituição imaginária da sociedade

orientação é um momento delineador do caminho da pesquisa.
tenho sorte com orientações. tenho dificuldade em segui-las, pelo simples motivo de ser lenta.
minha cognição precisa de um tempo próprio para digerir alguns conhecimentos.
sempre me pego relendo registros e em cada momento percebo com mais propriedade, faz mais sentido.
na ultima orientação, wani, a deusa orientadora,  sugeriu a leitura de castoriadis.
"quer discutir imaginário? então toma!prá... jogou "a instituição imaginária da sociedade" nos meus portentosos seios.
o semestre estava acabando. outras leituras foram priorizadas.
durante o recesso, brincando em casa com amigos, de fazer um programa de rádio, selecionei alguns livros para comentar durante "o programa" ( chamado laboratório), mostrei o "nostalgia do absoluto", o "cultura e pensamento complexo", " a terra e os devaneios da vontade", "transgressões convergentes" , a vingança de gaia" e quando fui mostrar o "a instituição imaginária da sociedade", simplesmente abri na página 192:

imaginário e racional
"é impossível compreender o que foi, o que é a história humana, fora da categoria do imaginário. nenhuma outra permite refletir estas questões: o que é que estabelece a finalidade, sem a qual a funcionalidade das instituições e dos processos sociais permaneceria indeterminada? o que é que, na infinidade das estruturas simbólicas possíveis, especifica um sistema simbólico, estabelece as relações canônicas prevalentes, orienta em uma das inúmeras direções possíveis todas as metáforas e metonímias abstratamente concebíveis? não podemos compreender uma sociedade sem um fator unificante, que fornece um conteúdo significado e o entrelace com as estruturas simbólicas. esse fator não é simplesmente "real", cada sociedade constitui seu real (não nos daremos o trabalho de especificar que esta constituição jamais é totalmente arbitrária). ele também não é o "racional", a inspeção mais sumária da história é suficiente para mostrá-lo, se assim fosse, a história não teria sido verdadeiramente história, e sim ascensão instntânea a uma ordem racional, ou no máximo, pura progressão na racionalidade. mas se a história contém incontestavelmente a progressão da racionalidade - voltaremos a isto - ela não pode se reduzida a tal. um sentido  surge ai, desde as origens, que não é um sentido de real (referido ao percebido), que não é nem verdadeiro nem falso e no entanto é da ordem da significação, e que é criação imaginária própria da história, aquilo em que e pelo que a história se constitui para começar.
não temos portanto que "explicar" como e porque o imaginário, as significações sociais imaginárias e as instituições que as encarnam, se autonomizam. como poderiam elas não se autonomizarem, já que elas são o que estava sempre ai "no início", o que, de um certo modo, está sempre ai "no início"? a bem dizer, a própria expressão " se autonomizar" é visivelmente inadequada a esse respeito; não estamos lidando com um elemento que, primeiro subordinado, "se desliga" e torna-se autônomo num segundo tempo (real ou lógico), mas com o elemento que constitui a história como tal. se existe alguma coisa que é problema, será antes a emergência do racional na história e, sobretudo, sua "separação", sua constituição em momento relativamente autônomo.
o texto continua até a página 197. ainda estou digerindo o livro. quando reencontrei wani, lá no grecom ela me perguntou se estava achando difícil a leitura.
respondi toda entusiasmada que não. na verdade leio fácil esse tipo de elaboração de pensamento, a grande questão é concatenar os tempos entre a leitura, a apropriação das idéias e conceitos e a escrita...

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